Data: 11/03/2011
Fonte: www.automotivebusiness.com.br| por Roberto Marx e Mauro Zilbovicius
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TAGs: automóvel, transporte, mobilidade, sustentabilidade
Editoria: Leitura
Atualização: 11/03/2011
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O século XXI pode marcar o fim de determinado modelo de mobilidade mas também parece apontar novos caminhos para a indústria automotiva.
A indústria automotiva inventou e disseminou o automóvel e a linha de montagem. Por isso, foi a indústria marcante do século XX. O complexo automotivo pode ser considerado o setor econômico símbolo do padrão de desenvolvimento que o mundo viveu até então.
Praticamente encerrada a primeira década do século XXI, essa indústria encontra-se em uma encruzilhada: o automóvel está em questão como objeto produtor de poluição, como meio de transporte ineficaz em termos energéticos e sociais, causador de congestionamentos nos grandes (e mesmo nos médios) aglomerados urbanos. Para muitos, a indústria automotiva é símbolo do que se deve evitar e modificar: produtos que fazem mal ao ambiente e que enfatizam o individual em detrimento do coletivo.
De fato, o automóvel ainda é o grande consumidor de combustível não renovável. Não se pode negar a oportunidade das demandas sociais ligadas à sustentabilidade. Elas influenciam eleitores e governantes, consumidores, investidores e empresas.
Mas não se pode concluir que a indústria automotiva está em inexorável declínio. Ao contrário, o século XXI pode marcar o fim de um determinado modelo de mobilidade, de negócios e de organização da produção, mas também parece apontar novos caminhos para essa indústria - o que significa novas oportunidades de negócios e novas necessidades de regulação.
A pressão social e legal por menores índices de emissão de gases de efeito estufa, menor poluição atmosférica, pelo uso de materiais ecologicamente mais corretos e processos de reciclagem mais eficientes, colocou na agenda a necessidade de desenvolvimento de novas formas de motorização e de novos materiais.
As soluções técnicas, sociais e políticas capazes de superar a "crise" do automóvel não estão definidas. Por isso, está em curso um processo sem precedentes de desenvolvimento de novas tecnologias que pode transformar a dinâmica tecnológica do setor: caso a motorização elétrica ganhe espaço significativo (algo que ainda não se pode afirmar, mesmo a se tornar o caso dos países desenvolvidos), as bases da indústria podem mudar, colocando muito mais pressão e risco de sobrevivência para empresas, negócios e instituições tradicionais do setor.
Tanto as fábricas como os sistemas de geração e abastecimento de energia podem mudar radicalmente, tornando obsoletos muitos dos investimentos já realizados. Mas esse processo não afeta somente a engenharia do ponto de vista do desenvolvimento de motores e materiais. É flagrante um esgotamento do uso do automóvel tradicional como meio de transporte individual nos centros urbanos. Grandes cidades dos países em desenvolvimento encontram-se próximas do caos do ponto de vista da mobilidade urbana. Coincidentemente, é nestes países que a indústria automotiva tem encontrado maior fôlego para crescer...
A questão da mobilidade não será resolvida somente com carros ambientalmente corretos, mas também com políticas mais adequadas para nortear e incentivar outros meios de locomoção, como alternativa ou complemento ao uso do automóvel.
Há um novo paradigma tecnológico e de mobilidade em gestação. Ele conviverá com o anterior durante longo tempo, e isso coloca desafios para cada um dos agentes no arranjo atual de negócios e de influência no setor - consumidores, empresas, governo, entidades formadoras de pessoas, órgãos reguladores e certificadores. É fundamental uma abordagem integrada e negociada, envolvendo as instituições e indivíduos com poder para (re)definir o conceito do produto, os materiais, a motorização e as condições de seu uso.
No Brasil foram produzidos mais de 3 milhões de veículos em 2009. Mais renda, crédito, capacidade de produção, estabilidade social, entre os fatores principais, levam à expectativa de que, antes de 2025, este volume será dobrado. Mas há escolhas estratégicas a serem feitas no que diz respeito ao tipo e ao conteúdo do produto que se irá produzir e usar no Brasil. Respostas a essas questões são bem menos consensuais:
1) Qual será o conceito dos produtos aqui montados? Até que ponto esses produtos acompanharão as tendências tecnológicas mais recentes da indústria nos países desenvolvidos? Será o Brasil um polo de projetos e fábricas de produtos "antigos", ambientalmente "sujos", para gerar excedente que financie uma indústria da mobilidade limpa nos países centrais? Embora atentas às outras possibilidades de produtos, motorização e novos materiais, as montadoras atuais tendem a defender a tecnologia atual; sua liderança se dá em um mercado construído sobre o paradigma anterior. Posições mais arrojadas tendem a ser exploradas por novos entrantes que, sem comprometimento com o passado, vislumbram mais oportunidades de negócios.
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